Páginas

Image and video hosting by TinyPic Image and video hosting by TinyPic Image and video hosting by TinyPic Image and video hosting by TinyPic

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Rapunzel

Eu


   - Mas, Genna, por que você não me deixa sair da torre, nem para colher flores? - Perguntei inocentemente enquanto enrolava os meus negros cabelos na mão para que ela não tropeçasse neles
   - Querida, você é uma jóia viva, não posso arriscar que minha perolazinha pegue essa terrível praga
   - Mas o que eu tenho de tão especial, para ser uma jóia viva?
   - Você é minha filha, e é a única que ainda não foi infectada, Rapunzel, você é muito especial. Entende?
   - Perfeitamente. - O lado bom é que a Genna era uma boa madrasta, ela me considerava uma filha, me superprotegia um pouco, mas ainda era muito legal
Genna
   - Agora me dê licença, sim? Eu vou colher umas verduras no quintal dos fundos para preparar o almoço
   Ela beliscou de leve a minha bochecha e saiu do quarto, trancou todas as 15 fechaduras da porta, eu podia ouvir os diferentes sons que cada uma fazia, era o mesmo que eu ouvia desde que tinha cinco anos, o som era tão harmônico que quase se podia ouvir uma música através dele. Eu deitei na cama, fiquei lá, encarando o teto, sempre que a tia Genna diz que eu sou uma jóia viva, eu me sinto poderosa, não é lisonjeada, agradecida, ou sortuda por ter uma madrasta tão boa quanto ela, é poderosa, como se eu tivesse algum poder nas mãos, alguma espécie de força sobrenatural que me rodeia sem eu ter consciência, sem a tia Genna ter consciência, mas as vezes ela me olha como se soubesse de algo que eu não sei sobre mim, se eu tenho algum tipo de habilidade em especial, ela deve me contar, pois não é me trancando numa torre que ela vai me proteger da pandemia zumbi, é me treinando como fez com os seus 19 afilhados, mas não me treinando da maneira que treinou eles, é treinando minhas habilidades, que eu ainda não descobrira quais eram, mas que ela sim, e por algum motivo não queria me contar. Eu ficava olhando pela janela, as cercas elétricas que empatavam a entrada dos zumbis, os moinhos de energia eólica do castelo, eu até conseguia ouvir os gemidos de sofrimento deles, eram três, e um deles era uma criancinha, que se aproximara da cerca, tomou um choque, e mesmo assim, tentou passar de novo, sentindo uma breve depressão, fechei as abas da janela, sentei na poltrona em frente à TV, pus meus fones de ouvido à ela conectados, e comecei a assistir um DVD, ao fim do filme, ouvi mais uma vez as 15 fechaduras se abrindo, era a tia Genna chegando com o meu almoço, ela o colocou na mesinha de centro, entre a poltrona e a TV, eu tirei os fones de ouvido
A sopa da Genna é a melhor do mundo
   - Obrigada, Genna
   - Por favor, Rapunzel, me chame de mãe
   - Mãe. - Eu sorri para ela e comecei a comer a sopa, ela ficou me observando enquanto eu comia, quando finalmente terminei, ela falou:
   - Querida, venha comigo - Ela segurou meu pulso e começou a andar até a porta da torre, eu estranhei, ela jamais me deixara sair da torre, mas a segui, era tudo como eu me lembrava aos cinco anos, logo à frente da porta havia uma escadaria de mármore, que nós descemos vagarosamente, à medida que descíamos, eu ia enrolando o meu cabelo nos braços, chegamos à sala de estar, o mesmo sofá de antes, as mesmas poltronas de antes, a mesma lareira com TV em cima de quando eu tinha cinco anos, eu olhei para um lado onde a porta de acesso à cozinha estava entreaberta, pois pensei ter visto alguém lá, mas era só impressão. A tia Genna puxou meu pulso de novo e me levou até o alçapão do porão, lembro que aos cinco anos, quando meus pais pegaram a praga, a tia Genna me acolheu e me levou para sua casa, eu abri o alçapão do porão, ela fechou-o rapidamente, me deu um tapa no braço e me levou ao meu atual quarto. Mas agora, ela queria que eu visse ou entrasse naquele porão, ela abriu o alçapão, as escadas eram brancas e o chão também, desci junto com ela, aquele porão era uma sala clara, cheia de cúpulas com água dentro, onde estavam flutuando meninas iguais a mim, algumas com a cor e cumprimento do cabelo diferente, outras com o tom de pele diferente, mas todas basicamente iguais a mim, haviam garotos também, apesar de garotos, se pareciam comigo, tinham traços afeminados, alguns tinham cabelos nos ombros, outros tinham cabelos curtos, mas era, em resumo, várias pessoas, homens e mulheres com uma aparência muito similar à minha - Rapunzel, você sabe o que é isso?
   - Pessoas igualzinhas a mim?
   - Exatamente, todos esses anos, eu estive fazendo clones seus, eles tem as mesmas habilidades que você - Quando ela disse essa palavra, essa mesma palavra que ficou rondando na minha cabeça umas 300 vezes aquele dia, habilidades... Que habilidades? - Você nunca soube, eu jamais pude deixá-la saber até a hora chegar, e a hora chegou - Ela sorriu, tirou um tubo de ensaio de onde estava e continuou - Rapunzel, querida, tente colocá-lo de volta no lugar - Eu estiquei o braço para pegá-lo, mas ela segurou minha mão - Não, não. Não toque nele, tente colocá-lo de volta no lugar sem tocá-lo - Eu simplesmente comecei a estranhar, mas imaginei uma maneira de fazer isso "meu objetivo é colocá-lo de volta no lugar" pensei "mas sem tocá-lo!" na mesma hora ele se levantou, eu percebi que eu havia feito aquilo, mandei ele para o lugar certo de novo da mesma maneira que havia levantado-o, seja lá qual fosse - Isso querida, pense em todos eles tendo essa mesma capacidade maravilhosa, com todos eles podemos acabar com essa pandemia, podemos exterminar todos os infectados e repovoar o mundo, refaremos todas as grandes construções que foram destruídas por essas criaturas do inferno, a Torre Eiffel, A grande muralha da china, a Estátua da liberdade e tantas outras, querida, passei dez anos fazendo os planos desse projeto e mais dez executando-o, os dados pessoais, todos eles terão personalidade diferentes, como nós, humanos não clonados, pense em tudo voltando ao que era à quarenta anos atrás, você se lembra das histórias que eu contava de quando 
Seria tão estranho poder ver a minha vida sem
ver zumbis toda hora, isso me parece tão utópico...
tinha 20? Pois então, Rapunzel, podemos viver essa utopia que todos tanto dizem jamais poder ser reconstruída! Pense em nós duas, como deusas. - Ela me olhou com um olhar glorioso e vencedor enquanto segurava os meu magros ombros, eu ainda estava extremamente confusa com tudo aquilo, eu tinha um super poder da mente? Como assim deusas?
   - Olha, eu acho tudo isso muito estranho, quer dizer, não precisamos de mais monstros além dos zumbis, eu queria apenas... Sobreviver a isso, repovoar o planeta é um sonho muito alto... E... Mãe, não sei se poderemos alcançá-lo
   - Rapunzel, abra a sua mente, pense no mundo lhe idolatrando, em todos nos obedecendo, nos respeitando, nos amando!
   - Quer dizer... Isso é tipo querer governar o mundo, não é normal, não é natural, e se não der certo, esses clones não quiserem obedecê-la, esses clones derem errado, ou forem infectados, terem algum problema que a senhora não prestou atenção, a situação pode piorar
   - Mas eu já cuidei de tudo, ninguém vai me questionar, ninguém vai me odiar, pode ter certeza! - Ela sorriu para mim como o Tom sorri para o Jerry - Agora, querida, volte para o quarto, ainda tenho muito o que fazer e seria melhor você descansar para poder pensar em tudo o que eu disse e pensar também na sua opinião sobre isso - Ela pôs a mão nas minhas costas, e eu fui andando até a escada sozinha, abri o alçapão e voltei à sala de estar, foi nessa hora que eu me lembrei do que pensei ter visto na minha cozinha, era meio real, resolvi entrar lá para ver se não tinha algo ou alguém lá, encontrei um cara que parecia um ninja, porém todo de branco, só se viam os olhos azuis dele, ele se aproximou devagar, chegou mais perto, mais perto, mais perto, até que estávamos cara a cara, ele estendeu o braço esquerdo e me deu um CD, me assustou muito, mas logo ele correu silenciosamente para a saída dos fundos da cozinha e desapareceu naquele nublado horizonte, saí da cozinha andando de costas, ainda com medo do que poderia acontecer, eu acabara de descobrir que minha mãe talvez fosse uma louca, meus cabelos arrastavam aos bolos pelo chão, segurei-os enrolados em meus braços, subi as escadas, degrau por degrau, eram tão gelados que até senti um calafrio na batata da perna,cheguei ao meu quarto. 

Finalmente. Eu não queria ver o que tinha naquela CD, eu estava com mau pressentimento, achei que se eu visse aquilo, talvez a minha vida toda mudasse, mas eu devia. Eu sabia que devia, só... Não queria. Mas fiz o que tinha que fazer, pus logo aquilo no meu laptop e comecei a assistir, a tela ficou branca e uma mulher apareceu, ela tinha cabelos loiros, curtinhos e olhos azuis da cor dos olhos do cara da minha cozinha, nessa hora, ficou claro: Ela era mesmo o menino da minha cozinha
   - Rapunzel, você é uma das crianças, adolescentes requisitados para a nossa organização de proteção à pessoas especiais. Isso mesmo, OPPE, Rapunzel, você tem um incrível poder mental, pode materializar qualquer coisa, mover, explodir, comburir, esmagar, controlar, construir tudo o que quiser, Rapunzel, você tem essa habilidade - De novo a a palavra habilidade, e de novo eu fiquei pálida de pavor, então, era isso, no final das contas... Minha vida era uma bagunça - Rapunzel, você está morando agora com uma das maiores psicopatas da terra, se bem que bater esssa escala não era tão difícil com a pouca população de pessoas sadias, qualquer pessoa meio má pode ser psicopata, mas você sabe que ela tem feito clones, não sabe? Seus clones, após repovoar o mundo, a Genna irá executá-la. Pelo simples fato de não querer ninguém em seu domínio a questionando, ela já tentou dominar o mundo inúmeras vezes, mas os casos foram mantidos em sigilo, a OPPE tem estudado com a mais alta tecnologia, ou pelomenos a tecnologia de ponta que sobrou em nossos laboratórios, pudemos rastreá-la. Percebemos também pessoas com leves distúrbios mentais, a moça que mora com você, e ela é, sim capaz de repovoar a Terra, mas isso não será bom, pois todos que a questionarem serão executados, e sabe porque ela te chama de perolazinha? Jóia viva? Essas coisas? Você foi o que deu a ela o que precisava para fazer clones perfeitos: Um poder especial. Mas escute: Você tem que vir o quanto antes, para que assim possamos explicar tudo à você.
Era ela a tia do vídeo


   Nesse momento, a minha madrasta, Genna abriu a porta, eu fechei o laptop com rapidez e desespero, espero que ela não tenha visto ou ouvido o que haviam me contado, ou eu não poderia saber tudo o que eles iam me explicar, que poderia ser a verdade sobre a tia Genna, mas mesmo assim eu fiquei lá parada, encarando-a, e ela olhando para a minha cara com uma expressão que não consegui identificar, mas estava claro: Ela havia escutado.




                                                Continua...

Nenhum comentário:

Postar um comentário