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domingo, 22 de maio de 2011

Ninfa das Trevas

   Eu estava, como sempre, no prédio principal com a orquestra, eu sempre tocava violino, mas a Hérmia não estava satisfeita com as minhas habilidades musicais "Oh, santo deus! Por que eu tinha que nascer uma ninfa Euterpe?Não me dou bem em música, não sou boa com instrumentos musicais, por que eu tinha que ser uma ninfa da música?" era o que eu pensava toda noite antes de dormir, a maioria delas me acham maluca, sou um pouco revoltada, viciada em solidão, não gosto dessas músicas que tocam aqui, eu sei que tem outra maneira de nos expressarmos musicalmente, essas são calmas e pacíficas, não me descrevem, eu só queria algo novo
Eu
   - Guatemalla! - Berrou Hérmia
   - Sim, senhorita Hérmia - Eu me levantei do meu banco
   - Por favor, exijo que pare de tocar, está estragando a música da orquestra! - Ouvi do fundo da sala, alguns risinhos das outras ninfas
   - Mas como eu estou estragando?
   - Esse ritmo agitado, essa violência ao tocar, você certamente não nasceu para a música
   - Me desculpe, senhorita Hérmia - Eu saí, comportada, com o meu violino nas mãos, mas com vontade de matá-la, elas não me compreendiam, mesmo caminhando calmamente, o meu longo vestido rosa batia nos meus pés, sentia as flores pinicando suavemente os meus ombros, a charpe rosa bebê se enrolava em meus braços e pés, quem me dera poder pegar o meu arco a atravessar sua garganta com ele, não sei se era a única a bolar alguns planos loucos de roubo, fuga ou matança sem nem ao menos realizá-los, saí do prédio principal, me deparei o com o lindo jardim que tinha lá, eu não gostava disso, não gostava de ser como as outras, de ser apenas mais uma ninfa com um vestido longo que toca músicas, mas era a única coisa que haviam me ensinado, tinha que aceitar que era uma Euterpe, uma ninfa da música, fiquei embaixo da árvore
   - Todo som - Eu conseguia ouvir a Hérmia falar - Todo e qualquer barulho por mais desafinado que seja é música
   Me sentei, ainda debaixo da árvore levantei os meus dois dedos posteriores ao polegar e comecei a deslizá-los no ar, nós ninfas da música tocamos músicas mesmo sem 
Essa é a Hermia
instrumentos, apenas com os dedos, percebemos as cores de cada nota, eu comecei a tocar o lago dos cisnes, saíram vários arco-íris e eu os ficava observando à medida que movimentava os dedos. Vi a Dalla, em frente ao prédio principal, prestes a tocar a sua flauta como sinal para que as outras ninfas saíssem, assim que ela tocou, as outras saíam leves, como se dançassem na grama, por que eu jamais conseguira ser tão delicada? Senti muita tristeza naquela hora, mas não era uma tristeza que as outras sentiriam, era raiva, mas poucas ninfas sentem raiva, lembrar a mim mesma disso só me dava mais raiva, só provava que eu era ainda mais estranha, tentei relaxar, levantei, fiquei na ponta dos pés de frente para a árvore e peguei uma maçã para comer, eu estava despedaçada, "...está estragando a música..." quando me lembrei dessas palavras, quase soltei um grito, choquei a ponta do arco do meu violino contra a árvore, foi tão forte que ele ficou lá, cravado naquela planta, como uma espada, as outras ninfas me olharam com uma cara de horror, pude ver algumas delas levando uma mão ou as duas à boca, outras simplesmente me olhavam preocupadas, como se todas tivessem medo de mim, foi a gota d'água, nessa hora eu corri para a minha casa, girei a maçaneta de esmeralda e lá encontrei a minha tranquila e pequena sala de estar, o sofá e puffys de seda, as cortinas de cetim, fui passando os meus pés pelo chão de mármore até o sofá, sentei nele e comecei a tocar com os dedos, uma outra música que fui compondo na hora, ela era depressiva e complicada, como eu, poucos a entenderiam, mas eu só não era boa com o violino, olhei pela janela, alguns passarinhos haviam vindo, ouvir minha música, achei lindo, simplesmente amo os animais, parei um segundo de tocar para ir até a janela, levantei o dedo para que o pássaro subisse nele, ao menos alguém gostava da minha música, ele começou a cantar o ritmo da minha música, peguei dois dedos da outra mão e fui tocando-a novamente, de repente, parei de tocar e já estava cantando junto com ele, eu amo 
principalmente as aves porque elas cantam. E são as únicas que não me julgam, deveriam haver outras músicas que expressassem sentimentos menos comuns, deviam haver músicas que combinassem comigo "Com certeza existem" pensei , lembrei dos livros que minha avó havia lido e me contado as histórias, eram absolutamente proibidos de serem lidos pois as ninfas líderes achavam que eles levavam as sombras ao nosso mundo, os livros falavam de um mundo depois das águas escuras, se nadássemos nos rios, e passássemos da parte em que as águas ficam escuras, iríamos parar num mundo louco, eu nunca cheguei a lê-los, sempre me esforcei para ser uma boa menina, mas eu não conseguia ser bem vista, vivia pisando em ovos quando tentava fazer as outras pessoas satisfeitas, nada dava certo. Nessa hora o pássaro que estava no meu dedo voou, "ele deve visitar o mundo do lado escuro do rio todo dia" pensei "como ele tem sorte" voltei a tocar, melancólica, a minha música, por algum motivo, eu tinha que aceitar: Eu era amarga e má, eu havia nascido para ser má, não era como as outras ninfas Euterpes, eu jamais seria delicada como elas, jamais seria doce como elas. Chega a noite, e eu tenho que dormir, me seguro à escada de madeira, dando uma última olhada pela janela, com a bela vista para o lago que tem a metade escura, uma vontade de ler os livros sobre ele me invadiu, mas eu resisti, virei minha cabeça, desviando meu olhar da estante, subi ao loft onde fica a minha rede de flores e folhas, deitei nela, mas não podia evitar curvar o meu pescoço na direção da janela para olhar o lago, e ele estava lá, sombrio, quieto, parado.
O lago
   Acordo no dia seguinte "lá vamos nós de novo" pensei "tente não estragar a música da orquestra hoje, Guatemalla" Levantei da cama, não entendia o porque dessa enorme tentação em ir para o lago onde na teoria, existe um portal para outro mundo, onde somos vistas por poucos, mas resolvi ignorar essa imensa vontade de ir para lá, peguei o meu violino e um outro arco, me direcionei ao prédio principal, no parque, caminhei pela grama que estava mais verde que nunca, o vento passava por algumas flores causando um efeito sonoro perfeitamente harmonioso, comecei a subir as escadas já podia escutar os risinhos das outras ninfas e os insultos da Hermia, mas continuei subindo as escadas de mármore, cheguei à porta da frente, através do cristal, podia ver todas se agrupando na ordem para começar a tocar, bastou a minha presença naquela sala que todas me olharam, inclusive a Hermia, todas voltaram seus olhares para o lugar e eu me direcionei à minha vaga na última fileira da orquestra, eu comecei a tocar junto com as outras ninfas
   - Guatemalla, pela última vez, estou mandando você tocar com graça e delicadeza! Você toca com a agressividade de mil minotauros!
   - Mas Hermia, eu...
   - Agora chega! Vá para fora do prédio principal.
   - Por favor, me escute...
   - AGORA!!!
   Meus olhos ficaram humidos, era inevitável a presença de uma retorcida cara de choro, as duas primeiras lágrimas escorreram, eu joguei meu violino no chão, o que causou o olhar espantado das outras Euterpes e o olhar duplamente enraivado da Hermia, saí correndo do prédio principal com as mãos no rosto, empurrei todas as que estavam na minha frente, inclusive a madame Hermia, corri para a beira de um lago, riacho ou o que quer que fosse, sentei com os pés encostando suavemente nas águas azuis de lá, eu não podia aguentar tanta pressão, por mais que eu tentasse, jamais conseguiria achar a paz de espírito, olhei bem para o horizonte, e só então me situei: Eu definitivamente, estava no lago do qual havia se falado nos livros "Será?" Pensei, a minha vontade de ir àquele mundo que a minha avó sempre descreveu como louco só aumentava, não era como a simples vontade de 
enfiar o arco do meu violino pela garganta da madame Hermia até perfurá-la 100%, era algo maior, quase me controlava "Se é para ser..." Pensei "Vai ser agora." Tirei a minha charpe, minha coroa de flores, e as pendurei na árvore, me direcionei ao lago, olhei ao redor para garantir que ninguém estaria me observando, fui arrastando meus pés até as calmas águas do rio, era gelado, desci até o ponto de as águas baterem na minha cintura, ouvi alguém chegando, era a Hermia, aquele monstro! Ela se aproximava, procurava alguma coisa, muito provavelmente a mim, ao ver que já havia liberado as outras ninfas e não me viu, melancólica, no parque, me procurou, apenas para poder me punir de alguma forma. Ela olhava para todos os lados, mergulhei naquela lagoa antes que ela direcionasse o olhar na minha direção "Agora não tem mais volta" Pensei "Ou eu vou logo até a parte escura, ou sofrerei pelo resto da vida" Tomei impulso numa pedra que estava embaixo d'água, nadei, nadei, nadei, nadei, nadei com o maior esforço da minha vida, eu estava a uma distância minúscula da parte escura do lago, podia vê-la vindo até mim à medida que eu ia até ela, mas algo me puxou, não como uma mão ou um animal, mas uma força bizarra, alguma coisa realmente me puxou para longe da parte escura, em dois segundos eu não via mais nada, mas lutava para voltar a onde estava, sem sucesso, eu era puxada para trás e para cima, eu estava presa àquela força, não estava mais na água, mas tentava respirar, e não conseguia. Eu abro os olhos de novo, estou deitada e encolhida em um tipo de poça, numa floresta escura, com medo, levantei-me rapidamente, olhei para trás, tinha passado para a parte escura do rio, estava na outra margem do tal "mundo louco" que o livro da minha avó descrevia, olhei ao redor e via os monstros, as lagartixas gigantes com dentes afiados que o mesmo mencionava, elas rosnavam para mim, eu sabia que aquilo não era bom. Muitos anos da minha vida dedicados a tentar ser delicada, sem obter sucesso, e agora eu me via obrigada a ser agressiva e forte, e deixar a delicadeza de lado. Um desses monstros veio rastejando na minha direção e agarrou minha perna, 
tentando me arrastar para o rio, mas antes que ele conseguisse, eu peguei a minha outra perna e dei um chute na cara dele, meus pés sangravam, eu estava desesperada, e fiz uma coisa que uma Euterpe jamais deve se atrever a fazer: Eu usei a gaita. Não era o instrumento, apenas uma sequência de notas emitidas como numa gaita, mas feitas pelos dedos de uma ninfa, com isso você consegue por a todos que estão por perto num sono profundo e severo "Os animais desse mundo não são muito fortes... Ou resistentes" Pensei "Será que existem outras ninfas aqui?" Ouvi de longe uma música, era amarga, era revoltada, deprimida, descrevia a minha vida e como eu me sentia em relação a ela. Segui. Segui a canção, a letra me libertava, de certa forma poderia me fazer sentir pior do que eu já estava, mas eu achei um preço justo a se pagar por ouvir uma música que revelasse que alguém me entendia, me fazia sentir melhor, pois eu também tinha raiva de todos. "Não sou como as outras garotas, sendo assim todos devem me matar. Não faz sentido obedecer a ordens se não agrado ninguém" ouvir aquela menina cantando tudo aquilo era como ouvir meus sentimentos. Depois de correr sem parar, me deparei com uma cerca, e depois dela, um chão acinzentado com umas listras amarelas, tinham luzes nas ruas, não tinha jardins, mas não liguei. Pulei a cerca, comecei a andar por lá, o meu vestido molhado, pesava cada vez mais, o chão machucava mais ainda o meu pé vagamente ensangüentado. Encontrei um prédio, mas não era um prédio normal, era quadrado, alto, o cristal de suas paredes não deixava transparecer o interior, apenas as suas portas faziam isso, era uma visão pesada, tinham muitas ninfas em frente ao prédio, elas se vestiam com roupas estranhas, 
tinham orelhas redondas e o aspecto de algumas delas me assustava, mas a música vinha 
de lá, resolvi seguir aquele instinto que havia me levado até onde estava, um deles só ficava parado na porta, com uma roupa preta, ele decidia quem entrava e quem não entrava, ele devia ser algum tipo de líder, pensei em pedir para ele para entrar, mas na mesma hora, alguém saiu de mim, ou quase, só alguns segundos depois eu percebi que aquela ninfa do outro lado do lago, havia me atravessado, como se eu não existisse. Então era isso, eu podia atravessar as pessoas daquele mundo e elas podiam me atravessar, estiquei meu braço para atravessar as costas de uma ninfa na minha frente, mas eu a toquei, minha mão não passava de suas costas, ela virou a cara com desprezo e um pouco de medo
   - Quem é você??
   - Ninguém... - Eu saí de perto devagar enquanto ela me olhava esquisito, quando me misturei às outras pessoas enquanto elas me atravessavam, foi o exato momento em que aquela ninfa virou a cara, eu pude escutar uma de suas amigas perguntar "Com quem você estava falando?" Como assim?? Então ela podia me ver mas as amigas dela não? Olhei para os lados e percebi na mesma hora que algumas pessoas me olhavam nos olhos e desviavam o olhar enquanto outras olhavam-me como se vissem através de mim, por que algumas pessoas me viam e outras não? Não importava, havia tirado o meu real objetivo de foco, torci para que o líder não pudesse me ver, apenas passei pelo portão, atravessando a maioria das ninfas que estavam no meu caminho, o que me assustou um pouco enquanto eu entrava naquela multidão é que muitas delas eram meninos, no meu mundo não tem muitos meninos, a música ficava mais alta, eu percebia sons com os quais não estava acostumada, eu quase não conseguia ouvir meus pensamentos, o ritmo dela parecia bater o meu peito com força, cheguei a parte da frente do palco, a menina que cantava era alta, magra usava roupas um pouco estranhas, eram apertadas, alguns detalhes ficavam pendurados, enquanto cantava ela se balançava de um lado para o outro como se estivesse brigando, eu estava encantada com a voz dela e com o modo como ela descrevia meus sentimentos, após o concerto, eu tinha que dar minhas congratulações, mas e se ela não pudesse me ver? Haviam mais meninos com roupas pretas em frente ao palco, mas provavelmente nenhum deles me via, logo após 
aquela maravilhosa música, a menina disse
   - Muito Obrigada, gente! Valeu! ESSA CIDADE ARRASA!!
   Ela saiu, sorridente do palco e as outras meninas que estavam atrás dela tocando aqueles instrumentos estranhos também, atravessei um dos garotos de roupa preta e subi no palco, entrei na mesma cortina preta que ela segui seus passos, ela caminhou e entrou numa porta onde tinha uma estrela dourada na frente, eu a segurei quando estava quase se fechando, a garota estava sentando-se numa poltrona em frente a um espelho acompanhado de uma penteadeira com pincéis e muitos tipos de pó colorido
   - Oi, quem é você?
   - Sou Guatemalla, olha, eu admiro muito a sua música, você canta com agressividade e faz isso parecer bom, a madame Hermia certamente nunca ouviu esse tipo de música, pois se ouvisse não falaria do exagero com tanto desprezo, você descreve os meus sentimentos e a minha vida ao cantar, acho que é muito bom eu perceber que há ninfas que me entendem e quando eu ouço você cantando é como se eu tivesse soltado minha raiva, eu só quero lhe dar minhas congratulações.
   - Ninfa?
   - Bem... É.
   - Olha, devo ter feito um ou dois trabalhos sobre ninfas para o colégio, mas eu não sou uma ninfa, elas são da mitologia grega e...
   - Mitologia?
   - É, sabe, de mito, mitológico, histórias inventadas
   - Eu sei o que é mito, mas eu não sou um mito
   - Você não é uma ninfa. E a propósito como chegou aqui?
   - Eu segui você
   - Tá e você quer um autógrafo, alguma foto?
   - O que é um autógrafo?
   - Vai me dizer que você não sabe o que é isso! - Ela ficou com uma expressão irritada no rosto
   - Não temos isso onde eu vivo
   - Eu estou presa com uma garota que tem distúrbios mentais - Ela parecia estar falando consigo mesma, mas eu me senti ofendida com a parte dos distúrbios mentais - Vou chamar os seguranças e tudo ficará bem... - Ela fez um sorriso forçado para mim - SEGURANÇAS!!!! - gritou quase chorando, logo dois daqueles meninos de roupas pretas, altos e gordos entraram e um deles perguntou com sua voz grave
   - O que aconteceu??
   - ALI!! NÃO ESTÃO VENDO ESSA GAROTA? TIREM ELA DAQUI! ELA TEM PROBLEMAS!
   - Vallery, não tem ninguém aqui - Eu dei um passo para trás para mostrar que os atravessava
   - Ah... Nada. Não foi nada... Eu me assustei com uma sombra só isso - Eles se entreolharam e permaneceram lá, olhando-a de um jeito estranho - Saiam daqui, eu vou trocar de roupa. - Como o ordenado, eles saíram e fecharam a porta - Então tá, você é mesmo uma ninfa, não é? - Ela estava apavorada e desesperada, eu realmente achei que ela fosse desmaiar
   - Sim.
   - é tipo uma deusa, é isso?
   - Acho que é... Uma ninfa Euterpe é uma ninfa da música, eu cheguei ao seu mundo atravessando a parte escura de um lago
   - Um lago??
   - Acho que um lago do seu mundo faz contato com o meu, bem... Haviam uns livros sobre isso, aqui não podemos ser vistas por todas, só não entendo por que...
   - Bem... Nas aulas de história, eu sempre aprendi que as ninfas eram seres espirituais, então, se você é uma ninfa da música... Talvez só quem tenha paixão pela música possa te ver
   - Provavelmente...
   - Por que você quis vir para cá?
   - Bem... Eu não gosto do meu mundo. As outras ninfas me criticam e não gostam do meu jeito, a madame Hermia odeia o modo como eu toco violino e eu já não aguentava mais me manter calma e ter que parecer sempre serena quando todos estavam olhando para mim com desprezo, só esperando que eu errasse, o meu mundo é um lugar bom... Só não é o meu lugar, eu queria ser uma não ninfa, como você!
   - O termo correto é humana, e quem é a madame Hermia?
   - Deusa das ninfas, ela passa a maior parte de seu tempo com as Euterpes, pois ama música, eu tenho procurado por tanto tempo alguma música que descrevesse os meus sentimentos raivosos e amargos, ao mesmo tempo que tento ser delicada e agradar a todas sem sucesso e quando eu cheguei ao seu mundo eu acho que encerrei a minha procura, mas em breve vou ter que voltar ao lugar de onde vim, terei que mostrar esse ritmo para a madame Hermia e talvez ela compreenda que o meu lugar não é empunhando um violino
   -  Sei bem como se sente... Quer experimentar minha guitarra?
   - O que é uma guitarra? - Ela riu baixinho, foi até um armário feito de madeira e de lá tirou o que me pareceu uma caixa de violoncelo de primeira, mas logo ela tirou o instrumento de corda mais estranho que eu já vi
   - Eu não usei no show de hoje porque a Tammy ia tocar na dela. Eu acho que você vai gostar- Ela ligou um barbante duro à tal da guitarra e depois colocou a outra ponta em um quadrado todo preto,  ela veio na minha direção e pendurou-o em mim com uma alça
   - O que é isso?
   - Um amplificador
   - Certo...
   - Quer que eu te ensine a tocar? - Mas antes de responder eu simplesmente comecei a tocar, eu não sabia o que estava fazendo, mas consegui fazer com que o som saísse raivoso e depressivo, como os meus sentimentos - Nossa! Você é muito boa nisso!
   - Sério? - Eu tirei a alça do meu ombro e entreguei a guitarra a ela - Eu gostei muito de fazer isso, foi como poder libertar o meu lado negro, a madame Hermia ia odiar me ver tocando algo tão agressivo
   - Você anda sempre com essas roupas?
   - Eu não gosto muito disso, mas todas usam de onde eu venho, eu cheguei aqui e achei as roupas de vocês estranhas, mas são bonitas. Não passam a impressão de tanta delicadeza e assim eu não precisaria tentar ser delicada, precisaria?
   - Eu acho que não, mas vem, tira essas roupas molhadas, eu te empresto as minhas
   - Tudo bem.
Quando humanas envelhecem ficam
tão murchas...
   Ela me emprestou algumas roupas ao mesmo tempo que me ensinava uma porção de coisas sobre o mundo dela, os fusos horários eram perfeitamente contrários, quando no meu mundo era dia, no mundo dela era noite e vice-versa, as pessoas do mundo dela ficam com a aparência envelhecida e muitos não vivem até os 102 anos, eles também não podiam tocar música com os dedos, tudo isso era meio novo para mim, enquanto estava no banheiro eu parei e dei uma olhada no ferimento causado pela lagartixa gigante, não havia sido um corte grande demais, num humano seria, a pele deles é fina e sensível, mas mesmo assim eu peguei um chumaco de algodão e coloquei no meu pé, por baixo da meia, eu saí do banheiro com uma jaqueta preta de couro sintético por cima de um vestido rosa, também de tecido leve, ele era comprido, mas ela o amarrou na minha cintura para encurtá-lo e com sucesso, estava também com um all star vermelho
   - São meia noite, melhor você ir para casa, seus pais vão te querer lá para o almoço
   - AI MEU DEUS!! A MADAME HERMIA VAI ME MATAR! QUANDO QUER QUE EU TE DEVOLVA AS ROUPAS??
   - Pode ficar, eu sou famosa, sou paga para usar as roupas, a qualquer hora eu posso comprar mais umas 40 dessas
   - Obrigada, eu volto à noite, quer dizer... Vai ser de manhã para você! Tchau!
Eram lindas e fofas, tão graciosas...
   Saí correndo, retrocedi todos os meus passos, entrei de novo na floresta escura, encontrei as lagartixas gigantes ainda dormindo, eram tão lindas, eram fofas e graciosas, claro que você tinha que olhar de um ponto de vista mais bondoso para pensar assim, então eu fiz mais uma coisa que nenhuma ninfa deveria fazer: Usei a flauta, diferente da gaita, esse é o uso do próprio instrumento, mas pelas mãos de uma ninfa, o que faz todos que estão lá naquele momento se encantarem e admirarem pela eternidade quem a toca, no caso, as tais lagartixas, não sei bem por que fiz isso, mas eu só queria abraçá-las quando voltasse lá, mergulhei de novo no lago, não senti nada me puxando para cima, quando comecei a nadar, apenas me senti como se estivesse caindo, não via nada não respirava, mas não era tão desesperador como da outra vez, quando finalmente voltei a ver, estava em baixo d'água, levantei com força, desesperada para respirar, ninguém à vista, isso era bom, tirei a jaqueta, saí do lago, desamarrei o vestido da Vallery que era quase igual ao meu, peguei minha charpe, minha coroa de flores, escondi a jaqueta em um arbusto e continuei a caminhar, até o salão mestre das refeições, eu abri os portões e todas as ninfas me olharam, inclusive a madame Hermia, elas me olhavam com ódio
Nas refeições, todas comemos cerejas
   - Guatemalla, por que está atrasada para o almoço?? - "Porque estava em um mundo dez vezes melhor que esse porque você não estava lá" pensei - O que é isso nos seus pés?? - "Sapatos, e parece que não tem nada dentro da sua cabeça" - E por que está toda molhada??? - "Porque descobri que lagartixas gigantes e sanguinárias são melhores que você" - Me responda a essas perguntas agora ou então...
   - Me desculpe, madame Hermia, eu jamais deveria ter me atrasado, isso nos meus pés são apenas um belo material que eu encontrei no lago e resolvi pegá-lo para uso próprio, e sinto muito se estou molhada, quando fui pegá-lo tropecei e acidentalmente mergulhei no lago, mas em seguida saí de lá, mas se a senhora puder me dar a honra da sua e da companhia das outras ninfas eu me sentirei mais agradecida do que nunca - A minha vontade era de mandá-la calar a boca e me permitir comer em paz, mas eu disse isso por medo de saber até onde a deusa das ninfas pode chegar com sua impaciência
   - Não. - Simplesmente, um seco não, não pude evitar um olhar de ódio sobre ela, todas a julgavam deusa das ninfas, mas tudo o que ela tinha de diferente das outras era dominar as habilidades de todos os mundos das ninfas, ela era talentosa, mas não era melhor que eu por isso. Infelizmente logo parei com o meu olhar de ódio sobre ela - O que ainda está fazendo aqui?  Mantenha-se longe do salão mestre das refeições até o fim do dia!
   - Hermia, eu não...
   - É UMA ORDEM!!!!
   - Me desculpe - "Eu lhe farei morrer velha e sozinha!" - Eu não quis atrapalhar - "Você deveria ser morta pelas lagartixas gigantes de lá"
   - Ótimo, e tire essas coisas dos seus pés, deixam eles maiores e mais feios do que já são.
   - Sim senhora - "OS SAPATOS SÃO MEUS EU OS TIRO QUANDO TIVER VONTADE!!!! IGNORANTE!"
   Eu saí do salão mestre das refeições, com uma aparência calma e serena, mas estava com raiva, repleta de ódio, quanta pressão eu sofria no meu mundo, de repente eu comecei a chorar, me direcionei a uma árvore, meio escondida, longe do centro do parque, onde tinha um balanço, sentei-me lá, comecei a tocar com os dedos, um som de guitarra, uma música baixa, porém revoltada, comecei a cantar também, alguns passarinhos pousaram no balanço, próximos ao meu ombro e começaram a cantar junto com a música, eles também gostavam da minha música revoltada, direcionei um dedo meu da outra mão para um deles subir, quando subiu começou a cantar mais alto, eu o levei até a frente do meu rosto e continuei cantando, quando percebi, mais de dez pássaros estavam ao meu redor me observando cantar, eu fiquei mais feliz que nunca, eu estava cantando com meus sentimentos e eles gostavam quando eu fazia isso. Mas a Hermia não, eu tinha que prová-la que isso era bom o quanto antes.


Continua...

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